Desde
que bati a porta de casa em direção ás ruas e ladeiras eu tentei criar nenhum
tipo de expectativa em relação àquela noite.
Eu
vinha trabalhando isso em minha mente á bastante tempo, mas eu sabia o quanto
era difícil. Eu queria apenas ser honesto comigo mesmo e com tudo ao meu redor.
Viver uma constante experiência transcendental de viver, onde apenas bastava
que os fluxos das coisas seguissem seu rumo.
Eu
tentava mergulhar no vazio da minha alma e perder todo o filtro que me impede
de me comunicar de forma sincera e honesta.
Alguém
vai achar que é excentricidade.
Mas
é só um esforço da naturalidade, como as águas limpas em que nada jamais nadou.
Parece
uma loucura, parece inalcançável. Mas estava disposto a encarar o exercício diário.
Um esforço que vai além de toda a força e alma.
Entramos
no bar e ela foi ao banheiro enquanto eu olhava de forma entediada para a televisão.
Fiquei feliz em estar naquele lugar, naquele momento e naquela hora. Televisão
em pleno domingo facilita o suicídio.
Quando
ela voltou, eu já estava com uma cerveja na mesa. Ela não estava bebendo, mas
eu estava com sede. Eu não gostava de beber sozinho, me sinto uma péssima companhia,
como correr ao lado de um aleijado ou cantar em frente ao mudo.
Era
meu egoísmo, mas ela não se importava. Só queria que eu me sentisse a vontade,
aparentemente eu já estava, mas a bebida potencializaria isso.
A
bebida sempre nos traz mais perto do transcendentalismo que eu queria encontrar.
Continuei
bebendo e degustando bem devagar.
A
cerveja descia lentamente em minha garganta, eu queria descrever toda a
sensação, mas seria mais um egoísmo da minha parte.
Perguntei
o que mais ela queria da vida.
“Gostaria
de trabalhar perto do mar, em alguma praia.”
Um
trabalho paradisíaco.
Compartilhei
de seu gosto. O vento do mar em meu rosto, a maresia nos trazia uma sensação de
paz e serenidade.
Mesmo
morando perto do mar, chegamos á conclusão que não era a mesma coisa.
Ela
desejava, eu apenas queria.
Ela
estava dentro de um monte de roupa por causa de um suposto frio da qual eu mal
sentia, mas não a deixava menos sexy. Eu desejei estar mais perto dela, onde
pudesse beija-la, mas não sentia nenhum tipo de sintonia carnal, ela me olhava
e só me oferecia interação, me deixava parcialmente satisfeito. Mas o
suficiente para me perder naquele bar, onde não havia mais ninguém pra contar
histórias, ninguém além de nós dois.
Ela
olhava para mim sentada em um banco de pernas enormes, onde seus pés mal
conseguiam tocar no chão.
Eu
falava, falava, e falava. Queria saber onde poderia chegar com tudo aquilo, ela
só me acompanhava com seus olhos castanhos em um interesse que me balançava.
Eu
queria deixa-la mais a vontade, mas ela dizia que tinha saído de casa com um
filtro que a impedia de entrar na sintonia perfeita, e sem beber ficaria mais improvável
de acontecer.
Depois
de duas cervejas paguei a conta e fui leva-la em casa.
As
ruas já pareciam esquisitas, escuras e solitárias, assim como seria a minha volta.
Depois
de dobrar algumas ruas em direção a sua casa, ela me prometeu que da próxima vez
deixaria o filtro em casa, tentaria extrair a maior sinceridade e honestidade
da profundeza de sua alma.
Senti-me
feliz em saber que nosso tempo foi preenchido de forma proveitosa, mesmo sem
ter passado esse tempo de forma carnal, a minha sintonia estava mais interessada
em sua simetria de ideias do que a simetria do seu corpo.
Na
caminhada isolada em direção em minha casa refleti sobre isso e percebi que
desejava uma tanto quanto a outra.
Desejo
suas ideias, sua interação, seu calor e a proximidade de nosso corpo.