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quinta-feira, 29 de agosto de 2013

CHUVA

Acordei em um dia de chuva. Meu café da manhã não estava na mesa, minhas roupas não estavam passadas, nada estava pronto.
“Onde esta Mirian?” Me perguntei extremamente irritado, pois sua falta de responsabilidade comigo me faria chegar atrasado ao trabalho, onde eu chego pontualmente todos os dias.

Me deparo com ela fitando a chuva pela janela.
- Que porra você esta fazendo? – perguntei irritado.
- Assistindo a chuva. – Ela disse calmamente.
Normalmente as pessoas gostam de dizer:  “O dia esta bonito”, quando o sol ilumina o quintal e podemos ouvir o canto dos pássaros.

Mas pra ela não.
Mirian era a pessoa mais estranha que conheci, deve ser por isso que me casei com ela.
Ela sente prazer na melancolia, nos tons de cinza, no gosto amargo.
- Por que não aproveita e vai tomar um banho de chuva? – Perguntei.
Ela acendeu o cigarro, olhou para mim com aquela maquiagem borrada de ontem,  parecia embriagada de solidão, e disse nos meus olhos:
- Eu sinto a chuva daqui. – Ela disse segurando o peito com as duas mãos, e continuou:
- Ela me faz borrar como cores que se desfazem em móvel velho. Toda a noite eu borro, assim como minha maquiagem, assim como marcas de batons no espelho.
Abracei Mirian e assistimos a chuva pela janela e disse nos ouvidos dela:

- Nossas vidas não precisam de chuva para serem borradas.

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Sombras


Quando eu cheguei em casa ela me disse que eu estava diferente.
- Esta faltando algo em você. – Ela me dizia, olhando em meus olhos.
Eu não fazia ideia do que era.
Ela cheirou a minha camisa pra saber se era algum perfume, olhou nos meus bolsos pra vê se tinha algum dinheiro, mas não conseguia encontrar.
- Vá em frente, não há nada aqui. – eu dizia.
Subitamente quando eu entrei em meu quarto a luz apagou.
Me perguntei se eu tinha trazido a sombra que habitava em meu trabalho para dentro do meu lar.
- Não traga o trabalho pra casa – Dizia, Meu psicólogo.
Era tarde demais,  as sombras de meu trabalho já estava cobrindo todo o chão do meu quarto e enchiam a sala de escuridão.
- Eu esqueci as luzes do lado de fora. – Disse a Mirian, que estava assustada sentada no sofá sem dizer uma palavra.
As luzes que eu via na rua não vieram comigo, ficaram pra iluminar algo bonito.
Iluminam uma casa charmosa, uma moça linda dançando na chuva, quem sabe até um beijo de um casal apaixonado.
A minha casa, onde eu e Mirian discutíamos horas a fio por qualquer merda que seja, não merecia aquela luz bonita, só merecia a escuridão do meu trabalho, onde eu e dezenas de homens se rastejam no chão olhando pra cada movimento do sol, esperando que ele vá embora e as estrelas do céu iluminem nosso caminho de volta pra casa.
- O que você fez com a luz? – Mirian me perguntou.
Deve ter caído no chão quando eu tropecei nas pedras invisíveis das nossas vidas.

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

CURVAS.

Dedos esfriam em corpos quentes.
Coração desacelera e o fluxo corre.
Ela leva minha mão para onde sempre quis estar, mas não agora.
É tudo mecânico.
Nada é espontâneo.
Não é nada pessoal, não é culpa nossa.
Não é sua, nem minha.
Um vento frio, um clima abafado.

Uma curva, onde deveria se acelerar.

terça-feira, 13 de agosto de 2013

Mudanças.

Tanta gente que corre, tanta gente parada.
Adultos andam, se rastejam.
Crianças correm, pulam.

Recebi uma denuncia pela conversa fútil, tola.
Fiz uma denuncia sobre um sorriso falso, tolo.
“Como você é cara de pal.” – Ela me disse descendo as ladeiras, com vinho debaixo dos braços.
Depois disso eu falei rápido demais, escutei demais.
“Eu quero mudanças.” Tinha escrito nas paredes da cidade.
“Tenho medo de mudanças.” Escutei uma vez dizer.
Até onde eu vim, eu desejei tudo demais.

Eu quero aquela amizade, aquele amor, aquele corpo, aquela mente, aquela conversa.
Eu quero satisfação, eu quero devorar tudo  sem me sentir vazio.
Sem pensar no vazio.
Ela dizia ser responsável, mas eu queria só sua inocência.
Imaginei quebrando todos os seus relógios pendurados na parede, e disse que queria ser o dono de seu tempo.

Agora se deite e sonhe demais, durma demais.