Acordei em um dia de chuva. Meu café da manhã não estava na
mesa, minhas roupas não estavam passadas, nada estava pronto.
“Onde esta Mirian?” Me perguntei extremamente irritado, pois
sua falta de responsabilidade comigo me faria chegar atrasado ao trabalho, onde
eu chego pontualmente todos os dias.
Me deparo com ela fitando a chuva pela janela.
- Que porra você esta fazendo? – perguntei irritado.
- Assistindo a chuva. – Ela disse calmamente.
Normalmente as pessoas gostam de dizer: “O dia esta bonito”, quando o sol ilumina o
quintal e podemos ouvir o canto dos pássaros.
Mas pra ela não.
Mirian era a pessoa mais estranha que conheci, deve ser por
isso que me casei com ela.
Ela sente prazer na melancolia, nos tons de cinza, no gosto
amargo.
- Por que não aproveita e vai tomar um banho de chuva? –
Perguntei.
Ela acendeu o cigarro, olhou para mim com aquela maquiagem
borrada de ontem, parecia embriagada de
solidão, e disse nos meus olhos:
- Eu sinto a chuva daqui. – Ela disse segurando o peito com
as duas mãos, e continuou:
- Ela me faz borrar como cores que se desfazem em móvel velho.
Toda a noite eu borro, assim como minha maquiagem, assim como marcas de batons
no espelho.
Abracei Mirian e assistimos a chuva pela janela e disse nos
ouvidos dela:
- Nossas vidas não precisam de chuva para serem borradas.