Esperei tanto para vê-la, mas quando a vi ela não foi nem
sombra de que foi um dia. Parecia outra pessoa. Não era o mesmo ânimo, nem o
mesmo espirito.
Estava sentada na calçada, pedindo mentalmente que aquela
multidão fosse embora, ou até mesmo, derrotada pelo fato de saber que irá enfrentar
a volta pra casa. A volta com tudo que tem direito: parada lotada, demora do
ônibus e se tiver sorte, ela vai ter um lugar pra sentar e pensar a viagem
inteira.
Quem não tem sorte sou eu. Vodca sem mistura, um brilho
de cansaço, todos meus amigos pensando em ir embora e eu querendo estender a
noite até onde desse.
“Estou cansada.” Ela dizia pra mim enquanto eu puxava
seus braços pra deixa-la de pé.
Dias atrás eu pedi que ela não bocejasse enquanto
estivesse comigo, agora eu pedi pra que não se sentasse enquanto eu estivesse
de pé.
Eu peço coisas demais, eu sei, mas naquela noite eu
queria um sorriso, uma companhia e um refrigerante pra não ter que tomar a vodca
pura.
“Você fica mais bonita bêbada, mais brilhante, mais
espirituosa”. Pensei em dizer pra ela enquanto suas mãos encostavam o seu
queixo.
Eu queria suas mãos encostadas na minha, mas acho que já
pedi demais.
Quando se foi, nem percebi que tinha ido embora, na
verdade ela nem chegou.
As ruas de Olinda estavam esvaziando e a minha garrafa
também.
Cada gole da Vodca pura eu sentia um gato arranhando meu
estomago e miando como se tivesse desesperado.
“Eu vou terminar essa porra.” Dizia para Miguel.
Miguel me ajudou no início, no meio, mas não estava no
fim da garrafa.
Entrei em um bar e percebi que havia bastante homossexuais, pedi um copo descartável e parei
pra puxar assunto com a atendente.
“Eu gosto é de Mulher.” Ela me disse como se não quisesse
mais conversa.
Era engraçado porque mal nos conhecíamos e já descobrimos
algo em comum.
Ela não queria conversar, mas me deu o copo descartável,
faltavam um pouco de atenção, educação e refrigerante, mas aí era pedir demais.